mais sobre antes que eu esqueça

Como um filme sobre um homossexual na terceira idade na França pode interessar a mim, um jovem heterossexual brasileiro? É claro que interessa, pois as questões de Antes que eu Esqueça são basicamente questões ligadas a como encenar a si mesmo de uma forma ética. Ou seja, como se colocar em quadro. A pungência do filme de Nolot é a forma frontal como é confrontada a encenação. Colocar-se em quadro, mas não se trata de um estilo documental: tudo é encenado, ensaiado, decupado. Não é essa encenação que torna o filme menos humano. Ao contrário, seu despojamento está na frontalidade dessa autoencenação assumida.

Antes que eu Esqueça não é um filme bonito. Também não é um filme sujo, descuidado. Não há espaço para firulas: há um tom duro, rascante, uma economia que não procura perder tempo com futilidades. Existe uma força que provém dessa estrutura sólida, de uma austeridade consciente e nada autobajulatória.

Uma das enormes questões do filme é entrar ou não no Pigalle (um cinema pornô). Essa questão poderia ser colocada de outra forma: fazer ou não um filme. O que muda? Tudo; nada. É preciso não pensar; é preciso pensar. É preciso, é temerário, é nojento, é irressistível, é inevitável. Entrar no Pigalle: uma dolorosa via de libertação. Um suicídio possível. Dói, mas é preciso.

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