bressonianas
Fazer cinema não é espalhar certezas, é criar dúvidas. Pôr em crise. Desestabilizar. Pôr em xeque. Não sei qual é o filme que eu pensei ter feito. Não sei qual é o filme que eu pensei ter visto. Não sei mais o que é o cinema. Não sei mais o que é o mundo. Não sei mais quem eu sou. Ainda que isso não seja nada confortável. Viver, filmar, criar não pode ser confortável. Ser delicado não significa estar em conforto.
Quanto mais se reflete, quanto mais se pesquisa, quanto mais se debruça sobre ele, o filme, a vida, o cinema, o eu permanece sendo um mistério. Perseguir a dúvida sistematicamente.
Viver, filmar, escrever: estar na corda bamba, na ponta da navalha. Amar e sofrer. Mas sem anestesia. É preciso viver sem anestesia. Ainda que doa, e que não seja somente um pouco.
Ir além da superfície das coisas, das aparências que enganam, que nos confortam. O céu é azul. Será? Aproximarmos mais das coisas, para vislumbrarmos os semitons de azul, perceber que os tons não são homogêneos. Mas não aproximar demais a fim de que o contato distorça nossa percepção do mundo. Estar na corda-bamba entre as panorâmicas íntimas e o debruçar sobre os umbrais do mundo.
Fazer cinema é ver epifanias diárias. Da janela do ônibus, vejo um menino de dez anos tirar o canudinho de coca-cola de sua boca e o colocar na de sua mãe, enquanto ela segura duas sacolas de compras e espera o ônibus chegar. A beleza não está na imagem, está para além dela. A beleza está aquém e além da imagem, mas nunca nela mesma. A imagem não é o que ela mostra, mas o que ela esconde.
Encenar não é mostrar, organizar um mundo, mas apontar para o que se esconde. Desestabilizar mas não necessariamente fragmentar. Apontar não para o fora-de-quadro, mas para o além-do-quadro. Camadas: um olhar para “dentro”, e não para “fora”. Concentrar para aprofundar. Resumir para aprofundar. Diminuir para acrescentar. Subtrair para exponenciar.
Quanto mais se reflete, quanto mais se pesquisa, quanto mais se debruça sobre ele, o filme, a vida, o cinema, o eu permanece sendo um mistério. Perseguir a dúvida sistematicamente.
Viver, filmar, escrever: estar na corda bamba, na ponta da navalha. Amar e sofrer. Mas sem anestesia. É preciso viver sem anestesia. Ainda que doa, e que não seja somente um pouco.
Ir além da superfície das coisas, das aparências que enganam, que nos confortam. O céu é azul. Será? Aproximarmos mais das coisas, para vislumbrarmos os semitons de azul, perceber que os tons não são homogêneos. Mas não aproximar demais a fim de que o contato distorça nossa percepção do mundo. Estar na corda-bamba entre as panorâmicas íntimas e o debruçar sobre os umbrais do mundo.
Fazer cinema é ver epifanias diárias. Da janela do ônibus, vejo um menino de dez anos tirar o canudinho de coca-cola de sua boca e o colocar na de sua mãe, enquanto ela segura duas sacolas de compras e espera o ônibus chegar. A beleza não está na imagem, está para além dela. A beleza está aquém e além da imagem, mas nunca nela mesma. A imagem não é o que ela mostra, mas o que ela esconde.
Encenar não é mostrar, organizar um mundo, mas apontar para o que se esconde. Desestabilizar mas não necessariamente fragmentar. Apontar não para o fora-de-quadro, mas para o além-do-quadro. Camadas: um olhar para “dentro”, e não para “fora”. Concentrar para aprofundar. Resumir para aprofundar. Diminuir para acrescentar. Subtrair para exponenciar.
Comentários
Apaixonados e apaixonantes.
Por que só é através das certezas que as dúvidas existem. Nada se pode criar partindo do abstrato. Com isso não digo que a abstração não seja importante na criação artistica,muito pelo contrario,é dela que surge a energia, a força, para que a idéia(que é pura abstração) ganhe nova forma, partindo do seu principio concreto(forma à priori). Até mesmo o Pollack não partia do abstrato(o quadro branco limitando os espaço já é uma concretude) e seus primeiros “traços de tinta” já o encaminhava para outros caminhos...Com isso tb não digo
que a arte tem que ser conservadora,impondo os valores e pensamentos absolutos de quem as cria. Mas essas dúvidas que surgem de “certezas duvidosas” acrescentam novas dúvidas para “certezas valiosas”. E é dessas valiosas certezas que se encontra a beleza,que é o templo da verdade. Veja bem ,uma palavra dita “eu te amo” lançada ao próximo não significa nada,não produz nunca algo novo,nem mesmo essa mesma palavra sendo dita por uma criança para com sua mãe. Mas um gesto,sim,o puro gesto concreto de amor pode sim modificar e muito, como um sorriso da mesma criança. Enfim acho que o pensamento e as emoções atingem outros nivéis quando partem desse concreto,mergulha no abstrato e chegam novamente ao concreto,agora banhado de sangue,energia e novas formas.E essas dúvidas não tem que ser criadas pelo cineasta(que já debruçou sobre as suas)e sim pelo espectador. Impor a dúvida é a mesma coisa que impor a verdade. Isso sim,não pode ser feito, senão morrerremos afogado... (Agora partindo de certezas “duvidosas” ou “valiosas” que possam estar inseridas nesse texto, pode-se enfim , que a dúvida possa emergir de suas profundezas)
Como amigo do cinema, ficaria contente com a sua navegação no blog O Falcão Maltês. Com ele, procuro o deleite cinematográfico.
Abraços,
Antonio Nahud Júnior
www.ofalcaomaltes.blogspot.com