Avatar
Avatar
De James Cameron
Cinemark Botafogo 5 (3D)
**
Ver Avatar não deixa de ser uma experiência emocionante. Com o termo “emoção”, não me refiro propriamente à saga dos avatares (os “bichinhos azuis”), mas em relação ao que está em jogo com a possibilidade de um filme como este ter sido feito. Explico melhor: com isso, quero dizer que se trata de um filme de James Cameron, um filme visionário. Há diversos aspectos que apontam para isso: o principal deles é a imbricação entre o mundo da realidade e do sonho (seria Avatar um filme surrealista?). É só lembrar o último plano do filme, o de olhos sendo fechados, e pensar em toda a coerência interna do filme. Ou ainda, a estrutura-base de O Vingador do Futuro. Outros são: a tecnologia como mediadora de um contato com o homem com a natureza, a busca por um paraíso perdido, um cinema-travessia, a política por meio do espetáculo.
Avatar é um filme sensorial, e daí a beleza do uso do 3D. O paralítico protagonista do filme tem a possibilidade de uma liberdade – espiritual, emocional e física – quando se torna um “bonequinho azul”: é bela a cena em que ele se levanta da cama e, contrariando a lição dos médicos, sai correndo pelos campos, sentindo suas pernas e o vento no rosto. O 3D reforça o tom sensorial do filme, e funciona melhor nas cenas de animação. Nos interiores, em geral no laboratório (cuja cenografia aliás é brilhantemente funcional), seus efeitos são menores. O interesse maior de Avatar é pelo “lado de lá”. De qualquer forma, o filme é uma mistura insólita de Pocahontas, Rambo, O Novo Mundo, Robocop, e tantos outros filmes que nos vêm à cabeça durante sua projeção.
Avatar é um filme político. É um filme que denuncia a expansão imperialista norte-americana, ou ainda, o preço pago em torno da ganância e do progresso material. Os “bichinhos azuis” claramente são mostrados como índios, tornando o filme uma espécie de metáfora sobre a colonização americana. Pela forma contundente como critica a cobiça do domínio bélico norte-americano, Avatar decerto é um filme humanista, que denuncia os abusos da guerra, um filme romântico (uma eterna fábula) sobre o paraíso perdido, e nessa direção vai contra os arroubos gráficos e estilizados (pós-modernos?) de um Bastardos Inglórios. Assim como Invictus, Avatar defende uma ideia de um contágio entre dois supostamente “opostos”, mas ao contrário deste, conclui que a guerra é inevitável, não havendo possibilidade de aliança.
Nessa ideia de travessia e contagio, de uma fábula histórica, sensorial e política, Avatar se remete a Titanic, o último “ultramegalomaníaco” projeto de Cameron. Quando os investidores foram ao set para tentar impedir o suposto naufrágio de Titanic (o filme), diz a lenda que Cameron urrava que só sairia dali morto (há um ditado militar que o comandante deve ser o último a deixar o navio quando naufraga). Titanic e Avatar representam uma operação de guerra, luta cruel e desesperada de um criador por sua obra, utilizando o máximo da engenharia financeira e tecnológica disponível para o mundo do cinema.
Há uma frase no meio de Avatar que aponta para isso. Quando a pesquisadora vai à sala do chefe da missão cobrar explicações, ele aponta para uma espécie de minério que custa milhões de dólares e diz “não se esqueça que é isso o que financia as suas experiências”.
O grande paradoxo de Avatar é que ao mesmo tempo em que Cameron critica o imperialismo norte-americano, o filme se utiliza das armas do grande espetáculo para realizar essa crítica. O espetáculo amacia o teor crítico do filme, mas ainda assim ele é visível. É cruel a forma como os seres azuis são esmagados no primeiro ataque e claramente não compartilhamos dessa visão. Há uma dor pela sua incapacidade de resistir, uma dor romântica e latente, um sentimento de que o progresso está nos levando à destruição. Ao mesmo tempo em que o filme estimula a fantasia e o romantismo, é calcado na objetividade dos números de bilheteria, estimulada pela “mais nova invenção”: o 3D. Tecnologia, arte, fantasia, ciência, mercado: o genoma de Avatar reflete os paradoxos desse homem integrado e deslocado de seu tempo.
De James Cameron
Cinemark Botafogo 5 (3D)
**
Ver Avatar não deixa de ser uma experiência emocionante. Com o termo “emoção”, não me refiro propriamente à saga dos avatares (os “bichinhos azuis”), mas em relação ao que está em jogo com a possibilidade de um filme como este ter sido feito. Explico melhor: com isso, quero dizer que se trata de um filme de James Cameron, um filme visionário. Há diversos aspectos que apontam para isso: o principal deles é a imbricação entre o mundo da realidade e do sonho (seria Avatar um filme surrealista?). É só lembrar o último plano do filme, o de olhos sendo fechados, e pensar em toda a coerência interna do filme. Ou ainda, a estrutura-base de O Vingador do Futuro. Outros são: a tecnologia como mediadora de um contato com o homem com a natureza, a busca por um paraíso perdido, um cinema-travessia, a política por meio do espetáculo.
Avatar é um filme sensorial, e daí a beleza do uso do 3D. O paralítico protagonista do filme tem a possibilidade de uma liberdade – espiritual, emocional e física – quando se torna um “bonequinho azul”: é bela a cena em que ele se levanta da cama e, contrariando a lição dos médicos, sai correndo pelos campos, sentindo suas pernas e o vento no rosto. O 3D reforça o tom sensorial do filme, e funciona melhor nas cenas de animação. Nos interiores, em geral no laboratório (cuja cenografia aliás é brilhantemente funcional), seus efeitos são menores. O interesse maior de Avatar é pelo “lado de lá”. De qualquer forma, o filme é uma mistura insólita de Pocahontas, Rambo, O Novo Mundo, Robocop, e tantos outros filmes que nos vêm à cabeça durante sua projeção.
Avatar é um filme político. É um filme que denuncia a expansão imperialista norte-americana, ou ainda, o preço pago em torno da ganância e do progresso material. Os “bichinhos azuis” claramente são mostrados como índios, tornando o filme uma espécie de metáfora sobre a colonização americana. Pela forma contundente como critica a cobiça do domínio bélico norte-americano, Avatar decerto é um filme humanista, que denuncia os abusos da guerra, um filme romântico (uma eterna fábula) sobre o paraíso perdido, e nessa direção vai contra os arroubos gráficos e estilizados (pós-modernos?) de um Bastardos Inglórios. Assim como Invictus, Avatar defende uma ideia de um contágio entre dois supostamente “opostos”, mas ao contrário deste, conclui que a guerra é inevitável, não havendo possibilidade de aliança.
Nessa ideia de travessia e contagio, de uma fábula histórica, sensorial e política, Avatar se remete a Titanic, o último “ultramegalomaníaco” projeto de Cameron. Quando os investidores foram ao set para tentar impedir o suposto naufrágio de Titanic (o filme), diz a lenda que Cameron urrava que só sairia dali morto (há um ditado militar que o comandante deve ser o último a deixar o navio quando naufraga). Titanic e Avatar representam uma operação de guerra, luta cruel e desesperada de um criador por sua obra, utilizando o máximo da engenharia financeira e tecnológica disponível para o mundo do cinema.
Há uma frase no meio de Avatar que aponta para isso. Quando a pesquisadora vai à sala do chefe da missão cobrar explicações, ele aponta para uma espécie de minério que custa milhões de dólares e diz “não se esqueça que é isso o que financia as suas experiências”.
O grande paradoxo de Avatar é que ao mesmo tempo em que Cameron critica o imperialismo norte-americano, o filme se utiliza das armas do grande espetáculo para realizar essa crítica. O espetáculo amacia o teor crítico do filme, mas ainda assim ele é visível. É cruel a forma como os seres azuis são esmagados no primeiro ataque e claramente não compartilhamos dessa visão. Há uma dor pela sua incapacidade de resistir, uma dor romântica e latente, um sentimento de que o progresso está nos levando à destruição. Ao mesmo tempo em que o filme estimula a fantasia e o romantismo, é calcado na objetividade dos números de bilheteria, estimulada pela “mais nova invenção”: o 3D. Tecnologia, arte, fantasia, ciência, mercado: o genoma de Avatar reflete os paradoxos desse homem integrado e deslocado de seu tempo.
Comentários
Pode não ser uma obra prima para você. mas com certeza e isso você impossível não concordar que o filme não é meramente Bom.
Já vi que trocou os nomes que as estrelinhas realmente significam.
* - Ruim
** - Regular
*** - Bom
**** - Ótimo
***** - Excelente
Pode não ser excelente, mais é um filme que as pessoas deveriam ver. A magia do cinema pode não ter voltado como você céticos do cinema (não aceitam nada de inovador) dizem com filme como esse, com um roteiro não tão bem estruturado. Mas vocês ligam muito para artifícios de estruturas que se entrelaçam e tudo mais, esquecem que uma boa estória é aquele simples e ser contada muito bem e que conquiste á todos.
Esses são os requisitos para m filme, conquistar uma grande massa com uma estória de arrebatar (o que como de Avatar, o que é incontestável).
Mas respeito, sinceramente sua opinião, posso não concordar em tudo mas respeito de verdade. Muitos pontos eu concordei, bom artigo.
bem-vindo a este blog. As cotações confundem as pessoas: elas vão de 0 (fuja!) a 4 (obra-prima!). Avatar é bom, e "bom" nunca é somente. Quem dera que tudo na vida fosse "somente bom". Concordo que uma boa história em geral é aquela simples, mas não concordo muito com esse lance de "ser bem contada e que conquiste a todos." Gosto de filmes que me fascinem, me perturbem, que me façam "desaprender". Isto é, filmes que me tirem o chão, filmes que ao final da projeção eu não entenda, eu não entenda que filme é esse, não entenda mais o que é o cinema, não entenda mais quem sou eu. Gosto de filmes que mudem minha perspectiva, que me transformem, que me façam pensar e se emocionar. É isso o que procuro quando vejo um filme. Se vai conquistar ou não a "massa", eu não me preocupo muito com isso.
Um abraço e visite mais esse blog e quem sabe descubra outros filmes.