Por um Cinema Didático

Um Cinema Didático

Estamos numa época em que cada vez mais se fala na imbricação de formatos, no impacto das mudanças tecnológicas, na possibilidade de ver conteúdo num celular, na indistinção das bitolas e dos suportes, nos efeitos em 3D e na computação gráfica, no cinema de marketing global e da tecnologia avançada. Diante disso tudo, o sábio Manoel de Oliveira, com seus noventa e tantos anos, faz um novo filme usando os recursos mais básicos do cinema: a velha película 35mm, o campo-contracampo, a câmera parada, o corte seco, a voz off.

Um Filme Falado é um filme sobre o conhecimento. É um cinema didático. “Ali fica o Parthenon”. Corta. Em contracampo, surge o Parthenon, entremeado de ávidos turistas que circulam pelo local. Volta para a imagem da mãe e da criança, das protagonistas, que vislumbram o local. “Mãe, o que o Parthenon?”, pergunta a menina. Há tanta coisa por se saber! É o recurso gramatical mais básico do cinema: sujeito-verbo-objeto. A filha olhou para a mãe. Coisa do tipo. Não há adjetivos no cinema de Manoel de Oliveira. Só há o essencial. Não há tempo para as firulas. Há uma brutal concentração de energia, para que ela não se dissipe sem necessidade.

É um cinema didático, é um elogio ao didatismo. Claro que para Oliveira, esse didatismo está muito longe do didatismo da televisão, do cinema televisivo. Um Filme Falado é quase um institucional. Percorre os lugares famosos do mundo como se fosse um cartão postal das várias civilizações. Mas no entanto nada estaria mais longe do filme do que o filme meramente institucional, do que o filme meramente didático, do que o filme meramente televisivo.
Por isso quando assistimos ao filme nos dá uma sensação de epifania. É como se estivéssemos diante de um mistério sagrado. A simplicidade franciscana de seu cinema é fruto de uma enorme sabedoria, de um imensurável sentimento de cinema, de uma inesgotável sabedoria. São nesses momentos em que a gente realmente suspeita de que o cinema pode ser considerado como uma arte. Manoel de Oliveira é um dos poucos que fazem cinema que a gente pode realmente chamar de um artista, no sentido estrito do termo. Tem gente que o acha chato, burocrático, acadêmico. Já tem gente que chora pela forma como se filma uma placa de concreto. Eu - certamente e com muito orgulho - estou no segundo caso.

Comentários

Anônimo disse…
ik, só um pedido: não se esqueça de comentar o "quanto vale ou é por kilo", e lembrar a apresentação do SEU filme na uff.

No resto é isso aí,
saravá.
cris.

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