AUTO-RETRATO DO ARTISTA DURANTE A GESTAÇÃO

AUTO-RETRATO DO ARTISTA DURANTE A GESTAÇÃO
De Marcelo Ikeda
(MiniDV, 2005, 16´)
Em casa


Estreou mais um videozinho esquisito meu: AUTO-RETRATO DO ARTISTA DURANTE A GESTAÇÃO. Fiz uma pequena festinha aqui em casa, com os amigos mais próximos para desfrutar desse momento. E foi uma das melhores coisas desse ano, uma experiência muito positiva, muito íntima. Me senti cercado dos amigos, numa energia afetuosa e sincera. Achei a recepção bem calorosa, na verdade mais que o trabalho merecia. Assumir-se como uma “comédia de erros” para mim tem enorme importância, seja por avançar um pouco mais na capacidade de meus trabalhos expressarem como sou (acho que um senso de humor um tanto peculiar e uma forte autocrítica sempre fizeram parte de mim), seja por admitir outra forma de me expressar. A “comédia” faz com que as pessoas reajam de uma forma mais positiva, mais “para cima” do que meus outros trabalhos. Ainda assim, é um trabalho de enorme continuidade com o que venho desenvolvendo: sobre a “distância respeitosa” que revela uma intimidade, a rotina, a circularidade, o vazio e a solidão do processo artístico e a angústia de viver, sobre as impossibilidades e uma certa sordidez do ser humano e do cinema, como sempre “há muito a se fazer” e pouco tempo para executar, sobre a importância dos tempos mortos e do espaço físico como reveladores de uma visão de cinema e de mundo. As pessoas queridas estavam próximas: todas as pessoas que eu queria que assistissem este trabalho ali estavam. A festa foi ótima; o clima do filme favoreceu o clima da festa, descontraído, as pessoas riram e zoaram e isso fazia parte da proposta do filme: então fiquei mais relaxado quanto ao próprio estado das coisas para exibir esse projeto. Enfim, tudo deu certo, fiquei feliz de verdade. Poder exibir esse trabalho me faz colocar uma série de coisas novas, e queria na verdade recuperar um certo clima de Casulo mas pós-Cinediário: a câmera na parte I que percorre os ambientes, totalmente inspirada em Casulo é a mesma mas completamente diferente, pois vem de Dias em Branco dos Irmãos Pretti (enquanto a câmera móvel no Casulo queria revelar um ambiente, mostrar uma condição de abandono – isto é, queria passar conhecimento, era uma epistemologia -, a câmera em Auto-Retrato queria desvelar uma intimidade, tinha uma relação afetuosa e terna com esses objetos, isto é, queria transmitir um sentimento, um espírito, era uma ontologia). A música japonesa brega versus o samba-enredo (e o movimento circular na parte III que explicita essa relação, o “por um lado” e o “por outro lado”); a necessidade de arrumação como espelho da condição de criação do artista; a possibilidade de o trabalho traduzir com mais liberdade e com menos embaraço a questão do corpo do ator.

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