Detalhes sobre meus videozinhos

Depois da Noite (1999, VHS, 18´)
Minisinopse: Menino “autista” fica trancado no quarto e tem espécie de alucinações que se confundem com a realidade.

Curiosidades: Todo sem som. Editado de vídeo pra vídeo. A festa de aniversário foi especialmente preparada para o filme. Os créditos foram riscados de giz no chão.

Ficha Técnica: Tudo: Eu. Com Victor Gil

Comentários: Meu primeiro vídeo é bizarro porque ao mesmo tempo em que demonstra um total desconhecimento mais básico da linguagem cinematográfica (e olha que eu já tinha mais de 20 anos...), é também uma espécie de declaração involuntária de princípios, tem muito rigor e paixão pelo seu ofício, e é bem antenado com o que vim fazendo depois. A cena da festa de aniversário é bizarra. O filme tem um longo plano seqüência de uns 7 minutos que mostra o menino saindo do seu quarto no segundo andar, descendo as escadas, saindo da casa, andando pela rua até um campo de futebol numa outra rua, tudo isso em plano-sequência com câmera na mão. Quando passou no Videvideo da UFRJ quase fui apedrejado.


Na Lata (2000, VHS, 1´)
Minisinopse: O ponto de vista de uma lata de cerveja, se é que isso existe.

Ficha Técnica: Tudo: Eu.

Curiosidades: Trabalho feito para a aula de som do Mário da Estácio, mas acabou não apresentado. Só exibido no site Curtaocurta; não tenho cópia. Nunca ouvi o som final que o Guilherme colocou. Todo em um único plano seqüência.

Comentários: Um trabalho criativo, meio longe do que busco, mais um fetiche da câmera. Pena que não tive condições de ficar bom (como sempre) e poderia ter um bom trabalho de som.


Casulo (2000, VHS, 8´)
Minisinopse: Maluco (Eu) tem alucinações em sua casa zoneada. Tenta sair, mas o mundo lá fora é ainda pior. Só lhe resta voltar ao seu casulo.

Ficha Técnica: Tudo: Eu. Com Eu.

Curiosidade: Todo feito em um dia, editado de vídeo pra vídeo, inclusive eu fui o ator. Filme trash, o mais radical dos meus vídeos, que passei a gostar, tem um tom influenciado por Maya Deren. A edição de som foi um milagre, em improviso, mesclando sons de microfonia com um concerto de Beethoven. PB, som com ruídos propositais. Os créditos iniciais e finais são uma figura a parte. Bizarríssimo.

Folhas Secas (2001, Digi8, 6´)
Minisinopse: Homem de meia idade (sempre em off) volta para reencontrar sua antiga amante, mas ela o despreza. O tempo passou.

Ficha Técnica: Tudo: eu. Câmera: Felipe Nepomuceno. Elenco: a namorada do Felipe.

Curiosidade, comentários: Filme feito para aula do Uranga na Estácio, adaptação de um conto espanhol que o Felipe me deu e que esqueci o nome ou o autor. Hilário: ficou tão trash que a “atriz” censurou a exibição do filme, me “pediu” para que não pagasse esse mico. Assim, só passou na aula. Narração de Pedro Camargo, que no fundo é o protagonista do filme, mas nunca aparece, só sua voz em off (como se todo o filme fosse de seu ponto de vista). As externas contemplativas e o plano final ficaram bem bons; os interiores com a “atriz” ficaram trash. O Felipe (também) detestou esse filme.

Rio (2001, Digi8, 6´)
Minisinopse: cenas de um dia de manhã e de noite no Rio de Janeiro.

Ficha Técnica: Tudo: Eu.

Comentários: Fiz com a câmera do Ivo a primeira da série de experimentações formais sob o impacto de Silver City, curta do Wim Wenders. O filme é um conjunto de cenas no Flamengo de madrugada e de dia cedinho. Sem atores, nada: só as ruas, carros, concreto, etc. Esse não ficou nada bom, mas é um trabalho importante para o que viria depois. Montado na Estácio; os editores de lá não acreditavam.

Entremeio (2002, Digi8, 12´)
Minisinopse: pedaços de lugares vazios no meu apartamento; meias naturezas mortas.

Ficha Técnica: Tudo: Eu. Montagem; Edição de Som: Irmãos Pretti.

Comentários: meu primeiro trabalho de algum nível. Um trabalho de alta experimentação e rigor. Filmo pedaços de mesas, cadeiras, móveis, etc em planos seqüência de às vezes um minuto sem movimento de câmera com um som esquisitíssimo (de Satie a Stockhausen). O vídeo é isso. A idéia é tentar trazer intimidade e emoção a objetos concretos com uma estética materialista. Isto é possível? Mais uma versão tupiniquim de Silver City.

Alvorecer (2002, MiniDV, 8´)
Minisinopse: pedaços de lugares vazios no meu apartamento ao som de Dona Ivone Lara

Ficha Técnica: Tudo: Eu.

Comentários: Mais um filme todo filmado no meu apartamento, forma quase uma trilogia com Entremeio e Casulo (assumido nas imagens desses dois vídeos que aparecem na televisão). Hilário: eu canto em off totalmente sem instrumentação, propositalmente desafinado, Alvorecer, da Dona Ivone Lara. Imagens: pedaços de móveis, roupas, etc, como em Entremeio. Como Entremeio ficou muito formalista, a idéia era ficar mais intimista. Acho que deu certo: dos vídeos que fiz é o que gosto mais.

Spencer, Ontem, Hoje e Sempre (2003, MiniDV, 10´)
Minisinopse: Spencer e sua memória afetiva, entre o Recife e o Rio, entre os filmes e a vida real.

Ficha Técnica: Tudo: Eu. Câmera e Montagem: Ivo. Com Fernando Spencer.

Comentários: uma homenagem ao cineasta pernambucano Fernando Spencer, por ocasião da sua estada no Rio na Mostra do Filme Livre 2003 quando foi o homenageado e quando escrevi um texto sobre seus curtas. Um abraço afetuoso, pega os temas da memória e da saudade para mesclar cenas de Spencer no hotel no Leme e na praia do Leme com cenas dos seus curtas. Um trabalho simples, um filme de montagem, que me deu muito prazer fazer, embora provavelmente o Spencer deve ter detestado. Ficou pronto muito rápido, pois foi exibido no encerramento da MFL. Tem um final muito sugestivo, uma espécie de “morte simbólica” que é combinada com cenas de O último tango em Recife, curta do próprio Spencer, para acabar numa íris muito bonita. É um “documentário experimental”, em que eu não quis fazer depoimentos, colocar cartelas ou informações sobre o Spencer, mas simplesmente promover um mergulho em alguns temas de sua obra, segundo meu filtro. As pessoas evidentemente detestaram e ficaram sem entender.

Tesouro do Samba (2004, Digi8/MiniDV, 40´/20´)
Minisinopse: depois de perder na final nos três anos anteriores, lá vai Cadu, compositor de samba-enredo da Mangueira, para sua quarta final consecutiva. Dessa vez vai?

Ficha Técnica: Tudo: Eu. Câmera: Eu e Felipe Nepomuceno.

Comentários: esse é um documentário mais caretinha que fiz, um exercício com o documentário mais tradicional, um trabalho que eu queria que fosse exibido e as pessoas gostassem, isso é um exercício também. Nesse ponto até deu certo, a montagem clássica dá um trabalho danado, mas não ficou tão bom porque a parte técnica (som e imagem) ficou muito, muito precária, e eu levei muita porrada nesse sentido com razão, mas foi um grande aprendizado. Um achado: com a amizade com o Cadu, peguei só o dia da quarta final, por isso um trabalho muito simples. Novamente o que estava em jogo era a intimidade: a primeira parte, toda na casa do Cadu, tem uma intimidade incrível, a câmera consegue fazer com que o Cadu e amigos fiquem muito relaxados. Depois, quando vai para a quadra da Mangueira, uma explosão de energia. A hora do resultado é o clímax e a grande cena do filme. Alguns toques pessoais: a voz off minha cantando o samba como uma idéia de percurso (Alvorecer), a quadra vazia amanhecendo ao som de Alvorada (Entremeio), o final muito poético na chuva, a cartela final. Bom trabalho, mas muito cansativo. Realmente não dá pra fazer um trabalho bom com cinema clássico se não tiver uma estrutura mínima. Passou na MFL uma versão de 40 minutos, muito longa, que chateou a todos. Para o concurso da RioFilme, fiz uma versão de 20´, que é a que considero a versão final do filme. Para mim o filme já valeu pela sessão no CCBB com a presença do Cadu, quando ele viu pela primeira vez, muito emocionante.

Canção de Amor (2004, MiniDV, 10´)
Minisinopse: um cara na fossa lembra da amada em tudo que vê.

Ficha Técnica: Tudo: Eu. Câmera: Eu e Joana Peregrino. Com Eu.

Comentários: primeiro filme do novo pique de produção com a PD e o eMac (Casulo Filmes? rs). Um filme sobre o desajeitamento, sobre estar desconfortável consigo mesmo, sobre uma crise. Sobre também, claro, um desvelamento de uma intimidade, sobre até que ponto é possível expressar os sentimentos (e nisso é que o amor entra nessa). Todo sem som (como em Depois da Noite). Dessa vez, uso cartelas com texto, mesclando imagem e cartela, um recurso inédito nos meus vídeos (eu detesto cartela porque me faz lembrar Godard). Eu de ator novamente, estou péssimo. Eu correndo é hilário. Externas na Praia do Flamengo. O plano final é um 180º que deu um trabalhinho, teve que ser picotado com as cartelas pra ficar melhor.

Cinediário (2004, MiniDV, 22´)
Minisinopse: o cineasta em seu processo rotineiro de criação: durante cinco dias consecutivos filma a mesma cena no mesmo horário

Ficha Técnica: Tudo: Eu. Câmera: Luiz Pretti. Ass Direção: Ricardo Pretti. Com Felipe Nepomuceno.

Comentários: Livremente inspirado em O Sol do Marmeleiro, de Victor Erice. Foi um sufoco convencer o Felipe para atuar no filme, mas no final ele fez na boa e ficou ótimo. Filmado todo na casa do Guilherme Whitaker, quando ele estava viajando. No início, eram sete dias, mas iria ficar com mais de 40´, então na montagem resolvi passar para cinco dias porque assim já estava chato o suficiente. Idéia: um filme sobre o processo de criação do artista, mas sem considerá-lo como um excêntrico romântico, mas um meticuloso que trabalha em cima da rotina, um filme sobre o processo de criação de um ponto de vista materialista e sem psicologia. Piada: uma espécie de making of de Entremeio. A edição de som foi o que me deu mais trabalho, após a experiência da edição de som do meu curta em película aprendi pra caramba. Então pensei em cada dia ter uma estrutura sonora diferente: normal (direto), relógio, natureza, obras, crianças. Ou seja, cada dia é o mesmo dia mas diferente. É um trabalho muito rigoroso e muito típico do perfil dos meus vídeos. Talvez então seja um trabalho mais acabado, de resumo, de síntese das coisas que venho fazendo e pensando sobre cinema. Todo sem diálogo e sem música, som só com ambiências.

Comentários

Anônimo disse…
pô ikeda, muito interessante ver todos os seus vídeos expostos assim. te dá uma geral do que aconteceu com você e com a sua maneira de ver cinema nos últimos anos. dá pra ver também a coerência que tem no seu trabalho (principalmente a partir do "rio". achei legal ver que você teve um processo onde de início você se desfaz da figura humana pra fazer seus trabalhos "materialistas" e que agora nos dois últimos vídeos você apresenta personagens como figuras centrais de seus vídeos. acho que a piada do cinediário ser um making of do entremeio muito lúcida. você se preocupa agora não só com fazer, mas com quem faz. me parece que você está refletindo sobre o seu próprio cinema e pensando nas coisas que você realmente quer dizer e que de alguma forma sempre estiveram lá, presentes no seu trabalho.
abs.
luiz pretti
Cinecasulófilo disse…
valeu luiz
mas não é só nos ultimos dois videos q tem gente: é em ultima instancia desde o spencer, passando pelo tesouro do samba: meus dois "docs" tbem sao sobre gente. ah, ve se qdo tiver mais tranquilo aparece, da um toque.

Postagens mais visitadas