Singelo texto sobre Corrida Sem Fim, de Monte Hellman, que escrevi há muito tempo atrás e por acaso acabei topando com ele. Ainda continuo concordando com ele... em pelo menos 90%.
A matéria-prima de Two-Lane Blacktop é o cinema. Nada mais. É um filme feito puramente de cinema, das relações entre tempo e espaço. Ou ainda, feito a partir de um deslumbramento ante o ato de filmar e um desencantamento ante o ato de viver.
Não há “entrecho”; não há psicologia. Apenas o cinema.
O piloto e o mecânico são. Gostam de carros; dedicam-se às suas máquinas. Estão em busca de competição, seja para conhecer outras máquinas, seja para ganhar a grana que precisam para sustentar suas vidas. O caminho não é mais sinal de encontro, de um acerto de contas, ou de resgate ao passado, como no simbólico percurso de um Morangos Silvestres. O caminho simplesmente é.
Warren Oates e a menina estão em busca de ser. Ele, com seu palavrório falso e afetado. Ela, com seu ar como se dominasse a situação.
Mas todo o estilo descritivo e árido de Monte Hellman não consegue deixar de revelar que seu filme é fruto de um irreprimível e incontrolável sentimento de ser.
Todo o estilo despojado de Monte Hellman não consegue esconder o rigor do enquadramento (o trabalho com as linhas verticais e horizontais), a crucial participação da montagem (do próprio Hellman). Praticamente não há improviso; todo o estilo relaxado é fruto de marcação.
As pessoas vêm e vão. Nenhuma relação consegue se fixar. Há apenas o caminho. O caminho não é meio, é fim.
Mas ainda há mais, porque, como dizíamos, Two-Lane Blacktop é um filme feito de cinema. Há o final. Mais uma competição, como qualquer outra. Há um campo-contracampo dos mais sugestivos, quando o piloto olha, de dentro do carro, para as pessoas lá fora, lá longe. O sinal é dado, a bandeira se agita, mas há algo estranho. A máquina não mais responde, mas desta vez é a máquina fora da diegese, a máquina do filme. O filme se esgarça; tudo acaba. É um dos finais mais desconcertantes. Toda a fragilidade do universo de Two-Lane Blacktop é tão intensa que contamina até os grãos da película. O filme é processo físico, exibido em suas entranhas, em seu tecido epidérmico. Como substância química, é tão perene quanto a vida.
A matéria-prima de Two-Lane Blacktop é o cinema. Nada mais. É um filme feito puramente de cinema, das relações entre tempo e espaço. Ou ainda, feito a partir de um deslumbramento ante o ato de filmar e um desencantamento ante o ato de viver.
Não há “entrecho”; não há psicologia. Apenas o cinema.
O piloto e o mecânico são. Gostam de carros; dedicam-se às suas máquinas. Estão em busca de competição, seja para conhecer outras máquinas, seja para ganhar a grana que precisam para sustentar suas vidas. O caminho não é mais sinal de encontro, de um acerto de contas, ou de resgate ao passado, como no simbólico percurso de um Morangos Silvestres. O caminho simplesmente é.
Warren Oates e a menina estão em busca de ser. Ele, com seu palavrório falso e afetado. Ela, com seu ar como se dominasse a situação.
Mas todo o estilo descritivo e árido de Monte Hellman não consegue deixar de revelar que seu filme é fruto de um irreprimível e incontrolável sentimento de ser.
Todo o estilo despojado de Monte Hellman não consegue esconder o rigor do enquadramento (o trabalho com as linhas verticais e horizontais), a crucial participação da montagem (do próprio Hellman). Praticamente não há improviso; todo o estilo relaxado é fruto de marcação.
As pessoas vêm e vão. Nenhuma relação consegue se fixar. Há apenas o caminho. O caminho não é meio, é fim.
Mas ainda há mais, porque, como dizíamos, Two-Lane Blacktop é um filme feito de cinema. Há o final. Mais uma competição, como qualquer outra. Há um campo-contracampo dos mais sugestivos, quando o piloto olha, de dentro do carro, para as pessoas lá fora, lá longe. O sinal é dado, a bandeira se agita, mas há algo estranho. A máquina não mais responde, mas desta vez é a máquina fora da diegese, a máquina do filme. O filme se esgarça; tudo acaba. É um dos finais mais desconcertantes. Toda a fragilidade do universo de Two-Lane Blacktop é tão intensa que contamina até os grãos da película. O filme é processo físico, exibido em suas entranhas, em seu tecido epidérmico. Como substância química, é tão perene quanto a vida.
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